A
cada quatro anos os municípios brasileiros recebem um novo prefeito e dezenas
de vereadores. No ano eleitoral tudo acontece. É o ano das CPI, das denúncias
de corrupção, malversação dos recursos públicos e das licitações fraudulentas e
sem jeito. Tudo isso se repete como uma doença crônica incurável, já que nada
se faz para mudar a realidade nos anos seguintes às eleições. Essas denúncias,
por vezes, tornam-se apenas falas politiqueiras em prol da eleição de alguns,
pois quando eleitos fazem igual ou pior que os adversários que os antecederam.
Esse
período também é aquele em que a grande massa de trabalhadores públicos com
relações precárias de trabalho são vergonhosamente assediados por alguns “cabos
eleitoreiros” mandados por seus elegíveis candidatos a prefeitos e vereadores,
deputados, governadores ou senadores a depender da eleição.
Infelizmente,
constata-se, repetidamente, nessa época, esse tipo de abuso, na maioria das
vezes, velado e executado na surdina.
Fica claro que é principalmente por essa razão que um percentual elevado
de profissionais do setor público são terceirizados em todos os municípios e Estados
brasileiros.
Embora
assédio tenha haver com ato repetitivo e assedio
eleitoral ocorra somente, na maioria das vezes, em anos eleitorais, isso é ao
que se submetem a maioria dos trabalhadores terceirizados do serviço público,
que sofrem a angustia de uma luta injusta para manter seus postos de trabalho.
Tornam-se massa manipulável dos inescrupulosos “políticos de meia tigela” que
buscam seus próprios interesses e não os da coletividade.
Esses
trabalhadores são assediados e quase sempre pressionados, quando não ameaçados
a participar da divulgação dos elegíveis nas “bandeiradas”, distribuição de
panfletos e das famosas passeatas. Alguns trabalhadores até se justificam:
“estou aqui porque fulano conseguiu
para mim esse emprego” e assim, o trabalhador se sente “subjugado” ao tal
político e se sente impelido a participar da campanha eleitoral.
Acaba
sendo esquecido o propósito do bem comum, o interesse coletivo de eleger bons
membros para o executivo e o legislativo, em função do compromisso individual assumido
com outro indivíduo, o tal “político”. Essa fragilização do trabalhador se
reflete também na fragilização dos serviços, pois em função disso, há grande
rotatividade dos empregados nas repartições públicas que dependem da eleição de
“seus candidatos”.
O
Estado brasileiro, por sua vez, despende tempo e recursos financeiros na
formação continuada de alguém que a depender de eleições e “força política” é
substituído de tempos em tempo. Pior ainda, muitas vezes esses trabalhadores são
colocados nos postos de trabalho sem critérios seletivos técnicos, apenas por
indicação, o que desqualifica em muito os serviços prestados à população, diminuindo
a qualidade e eficiência dos mesmos.
Na
saúde assim como nas diversas áreas, esse tipo de relação precária entre o
trabalhador e o órgão público é comum demais nas funções de nível médio administrativo, técnicos de enfermagem, de
saúde bucal bem como para cargos de coordenadores da maioria das unidades de
saúde.
Se
fossemos verificar, constataríamos que parte dos gerentes das unidades de saúde
assim como do pessoal administrativo não são servidores de carreira e na
maioria das vezes, não receberam formação para estar exercendo essas funções. Alguns
nem tem formação prévia necessária ao exercício da função, mas por outro lado,
grande parte, tem vínculos íntimos ou próximos a esse tipo de político
assediador de cidadãos, homens ou mulheres.
Hoje
entendo que essa falácia de que
“pode-se terceirizar” a mão de obra que não seja de fim mas de meio” existe sim
para ser meio de manobras e de manutenção de poderes duvidosos no que se refere
a construção do bem comum. Será que isso ocorre em seu município? No meu
acontece, mas é tudo na surdina. Ninguém comenta, ninguém acusa, evitando
comprometer o seu “sombreiro “ e consequentemente seu emprego.
Condenar
o trabalhador que se cala e se deixa manipular ou é demitido é um abuso, o correto
é encontrar um meio de delatar esses sanguessuga do poder, que quando não
compram o voto por algumas dezenas de reais obrigam o povo necessitado a
trabalhar em seu favor.
Esse
tipo de político, quanto eleito, jamais se preocupa com a desprecarização do
trabalho, não fala disso em suas campanhas, nem defende a qualificação da mão
de obra e da necessidade do concurso público para esse tipo de trabalhador,
pois melhor é que continuem assim para que nas próximas eleições possam
servir-lhes novamente a seus propósitos mesquinhos e pouco útil para a
sociedade como um todo.
Quando
eleitos para o legislativo participam pobremente das discussões relevantes, não
apresentam projetos de grande impacto, nem se organizam para cumprir seu papel
fiscalizador do Executivo. Esses outros, por sua vez, falam e criticam os
adversários pelos acordos e alianças e quando eleitos caem na mesmice e em nada
se diferenciam.
Os
acordos e conchavos a que se obrigam entre si, prejudicam o exercício eficiente
da atividade pública, pois acabam “arrendando territórios regionais” aos
partidos coligados nas grandes e pequenas metrópoles e em toda a rede pública
de serviços acaba tendo gestores escolhidos por uma indicação “política”
detentora de “poder” e não pela competência técnica.
Técnicos
já qualificados são substituídos por outros ainda sem qualificação pela mesma
razão, desconsiderando-se o investimento público anterior na formação técnica e
expertise desses profissionais simplesmente
por não existir um plano de cargos e carreiras para atividades de gestão
técnica e esses cargos estarem subjugados ao “poder”.
Precisamos
de legisladores e executivos comprometidos com o bem comum, para otimizar o uso
dos recursos públicos financeiros, humanos e estruturais. Uma parte dos eleitos
não cumpre seu papel enquanto membro do legislativo ou executivo e
distanciam-se do povo que os elegeu, pouco contribuindo para a melhoria dos
serviços públicos e da qualidade de vida da sociedade em geral.
Nesses
anos eleitorais, os órgãos fiscalizadores regionais do trabalho devem ficar
atentos quanto ao número de demissões sem justa causa, oriundos dessas empresas
terceirizadoras de mão de obra para o serviço público. Vários empregados
terceirizados estão sendo demitidos sem justa causa e são substituídos por
outros, sem motivo algum.
Quem
tiver provas e coragem denuncie atos de assédio
eleitoral para que esse tipo de político não chegue ao poder. Se não puder
denunciar, fale a seus amigos, informe o nome desses candidatos para que sua
rede social conheça esses trastes. Você pode até ser obrigado a votar no
sujeito manipulador mas seus amigos não.